Ana Carla de Carvalho
Giane Assmann
Luciane Pillar
O artigo abaixo é uma atividade integrada que fizemos na faculdade, no 2º período (Itajaí, 12 de Junho de 2015). Fala sobe o documentário dos caminhoneiros "Sobre Eixos" e as Determinantes Sociais de Saúde. Boa leitura!
"Sobre Eixos" e as Determinantes Sociais de Saúde"
Entre as diversas definições de DSS (Determinantes Sociais de Saúde), existem algumas que possuem maior ou menor níveis de detalhes, um conceito atualmente muito difuso é que as condições de vida de trabalho e do grupo social em que o indivíduo está inserido influenciam na sua situação de saúde.
As DSS são definidas como sendo fatores socioculturais, econômicos, envolvendo questões étnicas, psicológicas e comportamentais, podendo serem utilizadas como elementos de intervenção e, nas condições sociais que afetam ou prejudicam a saúde pública. Sabendo que a saúde enquanto conceito não é somente física e sim envolve vários fatores como: saúde mental, afetiva e físico, os indivíduos devem estar razoavelmente satisfeitos.
Tendo como base a psicologia social e a antropologia, conceitos foram selecionados para compartilhar conhecimentos através de outros pontos de vista em relação ao documentário “Sobre Eixos”.
Na psicologia social abordamos concepções como, as representações sociais, que são formas de conhecimento prático sobre a vida (Ex: trabalho, família, cotidiano e etc.), distinguir os fenômenos da realidade entre sujeito-realidade. As representações sociais servem para justificar as decisões, posições e condutas adotadas diante de um evento.
Em relação a antropologia, nos referimos ao conceito de que a cultura condiciona a visão de mundo do homem, ou seja, existe uma herança cultural que é moldada pelo nosso modo de ver, pelo etnocentrismo e onde cada cultura tem seu modo de construir sua visão de mundo.
Atualmente uma das classes trabalhadoras que são afetadas pelas DSS, é a dos caminhoneiros. Eles vivem em constante riscos, devido a falta de estrutura nas estradas, pressão psicológica, responsabilidade das cargas transportadas, desvalorização do frete, valores altos dos pedágios. Esses fatores acabam desencadeando emoções como: frustração, desamparo, etc.
Através do Documentário “Sobre Eixos”, percebe-se a relação do indivíduo-sociedade quando os mesmos salientam a importância da profissão (caminhoneiro) para o progresso do país, devido esse empoderamento das falas, nota-se que a categoria caminhoneiro, tornou-se uma estrutura-estruturante, onde os mesmos têm noção de seu poder e a capacidade de parar uma noção. Ao mesmo tempo a falta de incentivo das autoridades para com a categoria. Conforme relato de alguns, a lei pouco favorece a classe, ocasionando descontentamento por parte dos caminhoneiros em relação aos benefícios prometidos.
Pelo viés da Psicologia Social, entende-se que os caminhoneiros na sua grande maioria são estruturas – estruturadas. Através de depoimentos no documentário observa-se que a escolha da profissão teve influência direta do meio social em que estavam inseridos, na maioria dos casos, percebe-se que a escolha dessa profissão foi influenciada em sua maioria, pelos pais.
Mesmo o sujeito sabendo das dificuldades da profissão e das perdas que ocorrem ou podem ocorrer, eles ainda assim, optam em seguir a profissão, o que deixa claro as linhas de conduta (núcleo familiar) e/ou uma reprodução social pode ser determinante na vida de um sujeito. É nítido a rede complexa de significados, onde a presença do trabalho e da brasilidade são características marcantes. O caminhoneiro como indivíduo complexo demonstra sua autonomia em relação aos códigos particulares, quando optam em não estudar e seguir na profissão (representação objeto-imagem), ou seja, os limites impostos por eles mesmos.
No documentário, um dos pontos analisados é a questão do afeto, visto o longo período que os motoristas permanecem ausentes de seu grupo social (família, amigos e etc.), trazendo a realidade social do indivíduo como produto (relação indivíduo-sociedade) e produtor. Passa a ter maior participação na compreensão do sujeito social, onde a questão do afeto se torna agente das transformações na história singular e coletiva, a emoção passa a possibilidade de apreender o mundo.
Considerando a cultura não sendo algo homogêneo, tendo uma lógica própria, condicionando a visão de mundo do homem. Os caminhoneiros estão inseridos na cultura e fazendo cultura, transformando algo exótico em algo familiar e natural, proporcionado pelas experiências em que eles estão inseridos.
Conhecendo diferentes lugares, muitas partes desconhecidas, vivenciando as diferentes culturas do nosso país, se tornando mais humanos por estarem se relacionando com o meio cultural. E ao mesmo tempo que se aprende, se ensina. Somos produzidos e reprodutores de uma mesma cultura. Os caminhoneiros aprendem por estar em contato com outras pessoas de distintos lugares e ensina à essas pessoas a grande importância da sua profissão, de movimentar o país e ajudar em seu desenvolvimento. E torna a cultura do caminhoneiro em algo natural, onde a profissão muitas vezes é passada de geração em geração, por alguma influência familiar ou de amigos próximos. Muitas vezes influenciada por quem não teve muitas oportunidades de estudo para ter uma formação.
E ao mesmo tempo em que se conhecem muitas pessoas e lugares, se sente falta da família, de estar em casa, onde essas ocasiões quando acontecem se aproveita ao máximo. A dura realidade de estar mais fora do convívio familiar justamente para poder sustentar essa família com o trabalho de caminhoneiro. Torna-se uma prova de amor muito grande, tanto pela família a qual busca o melhor e tanto para a profissão, que necessita de muitas horas, dias, meses e anos de dedicação. E a grande recompensa e se tornar parte integrante da cultura, reafirmando a importância de continuar na profissão e dar o sustento a sua família.
Segue vídeo do documentário:
REFERÊNCIAS
SOBRE Eixo. Direção: Adão Ricardo Ripka; André F. Franciozi. Documentário, 14’41”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cymDaMQxv20 . Acesso em junho de 2015.
FILHO, Alberto P.; BUSS, Paulo M. A saúde e seus determinantes sociais. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1):77-93, 2007
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. 14ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
SPINK, M. J. P. The Concept of Social Representations in Social Psychology. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 300-308, jul/sep, 1993.
MOSCOVICI, Serge. Representações sociais. Brasil: Vozes. Ed 7, 2010.
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