Por Alessandra Schindler
Sim, mais um texto de Psicologia Social, prometo que logo postaremos outros assuntos hahah.
Em todo caso, "Representações Sociais" considero um dos temas mais complexos que já estudamos até o momento. Mas ao mesmo tempo que é complexo, é um dos mais fascinantes. Os dois principais autores do assunto são Mary J. Spink e Serge Moscovici, se alguém tiver interesse em ler as obras deles, recomendo bastante! Em todo caso, segue o texto do dia! :*
O conceito de representação social na abordagem psicossocial – Mary Jane P. Spink
Introdução
Sabemos que no mundo temos influências que agem de forma direta ou indireta sobre o nosso modo de vida, nossa vida social. Retratar as representações sociais, ou seja, fenômenos sociais indica que não podemos observar somente um fato, um indivíduo, um fenômeno solitário, mas sim, o coletivo, seja através de elementos cognitivos, seja por influência histórica, filosófica, social e até mesmo pela política e economia, mostrando o conceito de transdisciplinar, as formas de conhecimento, o sujeito como produto e produtor a realidade social, as representações sociais enquanto campos socialmente estruturados e núcleos estruturantes.
As representações sociais enquanto conceito transdisciplinar
Transdisciplinaridade pode ser conceituada como sendo um foco de diversos conhecimentos que, juntos, tentam compreender os mais variados fenômenos sociais. Ocorre uma desconstrução da divisão do indivíduo. Todas as ciências humanas são influenciadas pelas representações sociais. A psicologia estuda o seu conteúdo e seu processo de elaboração. As representações sociais podem ser abordadas em eventos intra-individuais, podendo ser mentais (onde a participação do social não é muito vista), como elementos centrais da comunicação – representação pública ou como elementos coletivos comunicados repetidamente (senso comum) – representações culturais.
As representações sociais como formas de conhecimento
Entender o conceito de Representações Sociais pode levar a diversos termos cujo sentido se torna de fácil compreensão. As representações sociais, como formas de conhecimento, são analisadas de acordo com 3 tempos descritos no texto: epistemologia clássica (distribuição de poder) à incorporação do social, relativização da objetividade e ampliação do olhar (ver o senso comum como conhecimento válido e responsável pelas transformações sociais).
De acordo com Moscovici, existem dois eixos que são abordados nas representações sociais, a primeira é a estrutura estruturada e a segunda, estrutura estruturante. Segundo Spink, “estruturas estruturadas” são “respostas individuais enquanto manifestações de tendências do grupo de pertença” e “estruturas estruturantes” são “expressões de realidade intra-individual”. Ou seja, a primeira subentende-se que seria o comportamento do sujeito mediante as tendências do grupo no qual se encontra e a segunda refere-se as crenças e comportamentos que serão analisados individualmente para então transformar em uma representação social.
Neste contexto, o conhecimento do senso comum entra em ação, não sendo ignorado ou “inutilizado” pelos estudiosos e profissionais. Como o próprio texto diz, é uma teia de significados que sustenta nosso cotidiano e sem a qual nenhuma sociedade pode existir, criar efetivamente a realidade social (construção social da realidade).
O sujeito como produto e produtor da realidade social
O sujeito como produto e produtor ocorre de forma simultânea na realidade social. Existem múltiplas singularidades que acabam se entrecruzando, ou seja, o sujeito realiza a sua história e a dos outros sujeitos ao mesmo tempo em que essa realização é feita por ele, seja de forma alienada, em função de um projeto ou por escolha qualquer. O sujeito como produto é visto como uma relação indivíduo-sociedade, onde o sujeito tem a sua singularidade, seu espaço no processo histórico, mas também, permite se expressar dentro da subjetividade. Spink traz em seu texto, a questão do afeto, que passa a ter maior participação na compreensão do sujeito social, onde a questão do afeto se torna agente das transformações na história singular e coletiva, a emoção em si, passa a possibilidade de apreender o mundo.
A especificidade da abordagem da psicologia social
A contribuição da psicologia social para as representações sociais surge com a abordagem psicossocial. Ela busca mudar o foco da divisão entre indivíduo e sociedade e entre o psicologismo e o sociologismo. O psicologismo pode ser entendido como sendo a analise do estado mental do produtor quando gera conhecimento (senso comum). Já o sociologismo, analisa as consequências geradas por estes conhecimentos sem estudar o seu produtor/sujeito.
A psicologia social tenta fazer a junção do sujeito e de seus produtos mentais que fazem parte das representações sociais, entrando assim, a questão dos campos socialmente estruturados, que só são entendidos de acordo com as condições de sua produção e dos núcleos estruturantes da realidade social.
As representações sociais enquanto campos socialmente estruturados
As RS como campos socialmente estruturados têm característica flexível e de permeabilidade com estrutura dinâmica. Ou seja, aqui entra a questão do reconhecimento do senso comum como parte da realidade social. Existe a permanência da tradição, da cultura local e junto com ela entra as novidades, o locus da multiplicidade, diversidade e contradição. A ciência e o senso comum se unem (apesar de serem contraditórias às vezes), para formar o imaginário social (descrito como uma teia de significados tecidos pelo sujeito) através da visão do mundo e das disposições adquiridas em função de pertencer a grupos sociais. Os campos socialmente estruturados permitem a mudança, novidades (função cognitiva) e novas formas de juntas os fatos estranhos com os tradicionais.
As representações sociais enquanto núcleos estruturantes
As RS como núcleos estruturantes são vistas como uma atividade voluntária orientada para um determinado resultado – ordem social. De acordo com Spink, existem diversas funções dentro das RS como núcleos estruturantes. Algumas delas são consideradas como sendo: orientação das condutas e das comunicações – função social; proteção e legitimação de identidade social – função afetiva e familiarização com a novidade – função cognitiva, sendo está ultima dividida em dois aspectos: a ancoragem e a objetivação.
A ancoragem aborda aquilo que é desconhecido ou diferente para um pensamento já formulado. Sua função é inserir este “diferente” no contexto social já existente. Enquanto que a objetivação é trazer aquilo que existe no pensamento para a realidade, transformando a “imagem” em algo que possa ser utilizado. Ela é dividida em três processos: descontextualização da informação, formação de um núcleo figurativo e naturalização.
Referências
SPINK, Mary J. O conceito de representação social na abordagem psicossocial. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csp/v9n3/17.pdf. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 300-308, jul/set, 1993.
MOSCOVICI, Serge. Representações sociais. Ed. Vozes, 2010.
Muito obrigada. Me ajudou demais!
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