Por Luciane Pillar
Hermafrodita
O texto chamado “Que nunca chegue o dia que irá nos separar”, escrito por Jorge Leite Jr, relata um problema social que ainda não foi resolvido na nossa cultura. Embora desde a antiguidade já tenha ocorrido diversos avanços sobre o conceito a respeito do hermafrodita, a sociedade atual continua com olhar preconceituoso em relação ao assunto.
O hermafrodita, que antes era associado ao mundo mágico e religioso, a partir do século XVI perde seu lugar nas classificações modernas. Inicia-se então um novo conceito, o hermafrodita agora é entendido como um erro da natureza, despertando curiosidade, medo, fascínio e desejo. A figura do hermafrodita por ter no mesmo corpo os dois órgãos genitais ( feminino e masculino) e coloca em xeque os padrões culturais sobre o que é ser homem e mulher.
Diante disso, o indivíduo considerado hermafrodita ou andrógino obtém um papel indispensável nas discussões sobre as diferenças biológicas entre os sexos. A partir do hermafrodita a ciência inicia um novo modelo de estudo, surgindo então o pseudo- hermafrodita, considerando que a cultura oficial torna-se racionalista e científica.
É preciso então definir quem é homem e quem é mulher, e o que não estiver neste padrão será considerado anormal. O que na antiguidade era entendido como mágico e sobrenatural torna-se, um desvio da natureza e, portanto deve ser banido. E todas as outras possíveis identidades vêm do hermafrodita psíquico, criado pelo discurso científico, pois era preciso estabelecer uma categoria para algo que não é entendido pela sociedade, que está em desacordo com a normatização.
Iniciando as discussões de identidade de gênero no mundo contemporâneo, essa diferenciação entre o hermafrodita, andrógino, pseudo-hermafrodita e hermafrodita psíquico deixa claro as rupturas que estão sendo criadas neste século, as mudanças e criações de novos conceitos para os fenômenos sociais, psicológicos e fisiológicos da sociedade. Uma pessoa presa num corpo que não é exatamente aquilo pelo qual se identifica, essa inadequação e desconforto com a imagem sexual acabam gerando muito sofrimento.
É importante referir que a transexualidade não é uma perversão ou doença mental,como se pensava antigamente,o fato do individuo nascer com um pênis não pode garantir que seja ou se perceba como um homem,o mesmo ocorre com quem nasce com uma vagina,nem por isso se sentirão mulheres. A ideia de pertencimento é uma expectativa de coerência entre a anatomia genital,as expressões de gênero e a anatomia do corpo. Sabendo que o sujeito é único e, portanto cada um tem sua expressão de gênero singular, a busca de construir diferentes categorias torna-se quase impossível.
Os hermafroditas e todas as possíveis identidades existentes continuam sendo compreendidas pela sociedade com estranheza e por que não dizer exclusão, ocasionando sofrimento, pois na maioria das vezes preferem viver no anonimato sendo este o comportamento ideal,a sociedade não entende a transição de um sexo para outro gerando muitas vezes violência, exclusão e etc.
Por isso decidiram pela divisão dos sexos por homem ou mulher e qualquer pessoa que desestaliblize esses conceitos criados pela medicina, psicologia, psiquiatria, direito, não são consideradas iguais sofrendo discriminações por serem diferentes.
Embora ainda marginalizados e perseguidos por várias sociedades, eles vêem conquistando cada vez mais espaço na sociedade. Afinal, o que existe nesses corpos que incomoda tanto a sociedade?
Chegou o dia que Salmakis implorou que nunca chegasse, mas se as pessoas conviverem juntas democraticamente com as diferenças é possível não mais haver separação, pois o que realmente separa são os padrões.
"Eu tenho o meu caminho. Você tem o seu caminho. Portanto, quanto ao caminho direito, o caminho correto, e o único caminho, isso não existe". Nietzsche
Referência
JR, Jorge Leite. Que nunca chegue o dia que irá nos separar. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332009000200011. Cad. Pagu no.33 Campinas, Julho/Dec. 2009.